Advogado com ampla experiência em defesa de corporações empresariais. Doutorando em Direito Constitucional. Mestre em Direito das Relações Sociais e Trabalhistas. Especialista em Direito e Processo do Trabalho. Milita atualmente junto aos Tribunais Superiores em Brasília. Ex-professor universitário. Ex-membro da Comissão de Direito do Trabalho e de Direito Desportivo da OAB-DF. Autor e Coautor de livros jurídicos e literários.
Há julgamentos que se perdem na poeira dos automóveis, e há aqueles que entram para o anedótico jurídico como verdadeiras epopeias. Recentemente, em uma das mais intrincadas ações rescisórias já enfrentadas pela Corte, o que se viu não foi apenas uma disputa técnica — foi um espetáculo de oratória, inteligência e respeito mútuo entre dois dos maiores nomes da advocacia contemporânea.
De um lado, um advogado recém-incorporado à defesa de um sindicato de trabalhadores. Não se tratava de um estreante — longe disso. Referência no meio acadêmico e militante respeitado nessa mesma Corte, o causídico vestiu a toga com a moda dos grandes e apresentou uma sustentação oral que, por si só, já valeria sessão. Com clareza, domínio jurídico e uma retórica envolvente, defendi com paixão os interesses da classe trabalhadora.
Do outro lado, o advogado de notável referência, professor e defensor experiente de uma poderosa indústria siderúrgica nacional, não se esquivou do desafio. Muito pelo contrário. Iniciou sua fala com um gesto que merece ser registrado: saudou com nobreza os membros do tribunal e fez questão de consideração, abertamente, a grandeza do colega adversário. A metáfora que utilizou, comparando-o a um último legionário em meio a uma guerra perdida, cercada em trincheiras, sem munição, mas ainda de pé, foi de uma elegante rara em tempos de embates cada vez mais ásperos nos tribunais.
Longe de qualquer intenção depreciativa, a imagem pintada em sua fala foi um tributo à coragem e à habilidade do adversário. Um reconhecimento, entre linhas, de que, embora os argumentos da defesa trabalhista fossem aguerridos, os fundamentos jurídicos não eram suficientes para reverter o curso processual já traçado nas decisões anteriores.
Com maestria técnica, o advogado patrono da empresa desmantelou, ponto a ponto, as fragilidades processuais da ação matriz. A sustentação foi precisa, serena, sem firulas ou afetações, mas com o peso de quem conhece profundamente o rito e as entranhas do contencioso estratégico.
No final, manteve-se a decisão de favor ao empregador. Mas a verdadeira vitória foi do Direito — e de todos os que tiveram o privilégio de assistir aquele embate. O que se viu foi mais do que um julgamento: foi uma aula magna de civilidade jurídica, um tributo à advocacia combativa e ética, que honra a tradição dos tribunais.
Duelos como esses são raros. E talvez por isso mesmo devam ser comemorados, lembrados e, sobretudo, contados. Porque, em tempos de polarizações rasas e discursos inflamados, testemunhar o respeito entre adversários e a elevação do debate jurídico é um alento — e um exemplo.