O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou, em entrevista ao jornal americano Washington Post, que não pretende recuar diante das pressões internacionais e críticas sobre sua atuação nos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Acusado pelo governo de Donald Trump de violar liberdades individuais, Moraes respondeu que está apenas cumprindo seu dever de proteger a democracia brasileira.
“Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, declarou Moraes, ao comentar as sanções aplicadas por Washington, como a revogação de seu visto e sua inclusão na lista da Lei Magnitsky. “Faremos o que é certo: quem tiver que ser condenado, será condenado; quem tiver que ser absolvido, será absolvido.”
O ministro reagiu à acusação de liderar uma “caça às bruxas” afirmando que sua atuação é uma espécie de “vacina” contra as ameaças autoritárias que o Brasil já enfrentou ao longo da história. “Quando se é mais atacado por uma doença, você forma anticorpos mais fortes e busca uma vacina preventiva”, disse, ao justificar as medidas duras adotadas contra desinformação e discursos golpistas.
A reportagem americana descreve Moraes como “o jurista mais poderoso da história do Brasil” e “o xerife da democracia”. A matéria relata episódios marcantes, como o momento em que o ministro ordenou prisão domiciliar para Bolsonaro, após o ex-presidente violar ordem judicial sobre uso das redes sociais — uma decisão tomada enquanto Moraes assistia a um jogo do Corinthians.
O Washington Post também destacou o papel central de Moraes na abertura de investigações contra fake news e ataques ao STF, iniciativa inédita na história da Corte, e criticada por setores que o consideram “poderoso demais”. O ministro, no entanto, rejeita a ideia de abuso de poder: “Meus colegas já revisaram mais de 700 decisões minhas. Sabe quantas eu perdi? Nenhuma.”
Moraes ainda afirmou que se inspira na tradição constitucional dos EUA e minimizou a tensão diplomática atual como um reflexo de desinformação alimentada por figuras como Eduardo Bolsonaro. “Essas narrativas falsas envenenaram a relação”, disse.
Apesar da vigilância constante e da perda de liberdades pessoais, o ministro garantiu que continuará agindo enquanto houver ameaças à democracia: “Claro que não é agradável. Mas, enquanto houver necessidade, a investigação vai continuar.”
Fonte: Agência O Globo